Nossa história

O Núcleo de Estudos da Saúde da Criança e do Adolescente (NESCA) surgiu a partir de uma história de trabalho consolidada em dois grupos do Campus da USP de Ribeirão Preto – o Departamento de Puericultura e Pediatria (DPP) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (FMRP-USP) e o Laboratório de Ensino de Ciências (LEC) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP (FFCLRP-USP), que se constituíram e cresceram de forma independente e que se organizaram nos anos 1980 como um grupo que interseccionava trabalhos e atividades complementares. Esta relação foi surgindo na medida em que docentes do DPP e seus pós-graduandos perceberam a necessidade de aprofundar os estudos que vinham desenvolvendo na área de saúde da criança e do adolescente, estabelecendo contatos com o campo da educação e da aprendizagem. Da mesma forma os professores da rede pública de ensino foram percebendo a falta de estudos de saúde (básicos, conceituais) sobre a criança e o adolescente com os quais trabalhavam e pelos quais eram diretamente responsáveis na escola. A organização do Núcleo se deu a partir do momento em que o processo de ida às escolas para o desenvolvimento do projeto de pesquisa da busca dos escolares pertencentes à coorte nascida em Ribeirão Preto em 1978/79 permitiu o contato com problemas como dificuldades de aprendizado, absenteísmo e evasão escolar (que ficaram evidentes a partir do contato com os alunos, professores e diretores de escolas), que muitas vezes são homogeneizados e medicalizados, atribuindo causas físicas ou patológicas a dificuldades não suficientemente estudadas em suas origens. A partir dessa constatação, o Núcleo propôs o curso “Espaço interdisciplinar para o ensino de Ciências e Geografia”, surgido na esteira da constatação do despreparo dos professores de 1° grau em relação ao tema “saúde”. Visava trabalhar a formação continuada de professores de escolas do ensino fundamental e de professores do Curso de Habilitação para o Magistério de 1° grau, tendo em vista metodologias educacionais de melhoria do ensino básico no que se refere à relação saúde e educação ambiental na escola.

O Núcleo participou ativamente das discussões sobre a política de saúde para a criança e o adolescente no município de Ribeirão Preto empreendidas pela Coordenadoria da Saúde da Criança e do Adolescente da Secretaria Municipal da Saúde, na organização do Workshop e do Seminário que discutiram esse tema, em meados dos anos 1990. Aprofundou as discussões sobre a questão da escolaridade do adolescente e suas relações com as questões da saúde, como foi abordado em análises realizadas no final dos anos 1990, que envolveram os conscritos pertencentes à coorte de nascidos vivos de Ribeirão Preto em 1978/79.

A partir da aposentadoria das docentes do LEC, o Núcleo se reorganizou em torno de dois docentes do DPP e dos alunos de pós-graduação, alunos de iniciação científica e pesquisadores egressos do programa de pós-graduação em Pediatria da FMRP-USP, e pesquisadores de outras instituições. Constituiu-se como Grupo de Pesquisa cadastrado no CNPq em 1988 e integra o Programa de Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da FMRP-USP. Colaborou com o Núcleo de Pós-Graduação em Medicina da Universidade Federal de Sergipe por meio do Programa de Cooperação Acadêmica da CAPES (PROCAD), além de colaboração com pesquisadores do Chile e do Reino Unido. Envolve docentes de vários Departamentos da FMRP, da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da USP, da Faculdade de Medicina da USP e da Faculdade de Medicina da UFRGS. Mantém intercâmbio mais intenso e duradouro com o Núcleo de Pesquisas em Saúde Coletiva, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), criado e cadastrado no CNPq em 1993.

Esse intercâmbio intenso e duradouro entre NESCA e UFMA se deu por meio do Prof. Dr. Antônio Augusto Moura da Silva, docente do Departamento de Saúde Pública daquela Universidade, desde que foi aluno do curso de pós-graduação da FMRP na área de Medicina Social, em meados da década de 80 e começou a participar ativamente das análises dos dados dos estudos perinatais. Essa participação motivou-o a realizar projeto semelhante em São Luís, MA, tendo coletado dados dos nascimentos em 1997/98, com metodologia semelhante à utilizada nas duas coortes de nascimento de Ribeirão Preto, de 1978/79 e 1994. Vários estudos dos dados de Ribeirão Preto e São Luís isoladamente, e principalmente análises comparativas entre esses dados foram desenvolvidas, gerando dissertações de mestrado, teses de doutorado e artigos científicos publicados em revistas com seletiva política editorial e apresentados em congressos nacionais e internacionais.

Nos estudos comparativos das coortes de São Luís e Ribeirão Preto, várias hipóteses que relacionam exposições no início da vida e doenças crônicas foram testadas, na perspectiva da teoria da Origem Desenvolvimentista da Saúde e da Doença (DOHaD, na sigla em inglês), que postula que exposições precoces na vida podem favorecer processos patológicos ao longo do ciclo vital. Os resultados desses estudos reforçaram a necessidade de iniciar nova coorte de nascimentos, para se coletar mais informações do período perinatal e também material biológico, além de realizar seguimentos mais próximos dos membros da coorte ao longo do tempo. Desta forma, os grupos de pesquisa de Ribeirão Preto e São Luís propuseram um novo e amplo projeto de pesquisa, o PROJETO BRISA, para investigar novos fatores etiológicos do nascimento pré-termo em uma abordagem integrada, e repercussões da prematuridade e outras condições de nascimento no ciclo vital. Foram então avaliadas amostras de conveniência de gestantes nas duas cidades, durante o pré-natal, no nascimento e a partir dos 13 meses de vida das crianças; e uma coorte de nascidos vivos nas duas cidades, durante o ano de 2010, e seu seguimento também a partir dos 13 meses de vida das crianças. Esse projeto contou com financiamento da FAPESP.

A importância das coortes de nascimento vem do reconhecimento de que muitos dos problemas que afetam a vida adulta têm sua origem no início da vida, incluindo a gestação. Apenas estudos que consigam coletar dados ao longo da vida terão informação em qualidade e quantidade suficiente para explorar estas questões. Nesse contexto, foi iniciado em 2014 um consórcio de pesquisa para a investigação científica que contempla um conjunto de atividades conduzidas nas coortes de nascimento em andamento nas cidades de Ribeirão Preto, São Luís e Pelotas, RS, que focalizam questões ligadas a temas de alta prioridade ligados à saúde da criança e do adulto: precursores das doenças crônicas do adulto, composição corporal, incluindo a epidemia de obesidade. O projeto aborda também aspectos essenciais para a saúde integral: capital humano e saúde mental. Esse projeto originou a reavaliação das coortes de Ribeirão Preto mais antigas, de 1978/79 aos 37/39 anos de idade e a de 1994 aos 22-23 anos , a de São Luís de 1997/78 aos 18-19 anos e as coortes de Pelotas de 1993 e 2004. Esse estudo foi financiado pelo Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (DECIT/SCTIE/MS). A partir de 2018, novo financiamento do DECIT/SCTIE/MS para o consórcio permitiu a reavaliação das crianças da coorte BRISA em Ribeirão Preto e São Luís, e das coortes de Pelotas de 1982, 2004 e 2015. A avaliação da fase escolar da coorte BRISA Ribeirão Preto ocorreu entre março/2022 e julho/2023.